Resenha: Memórias de um sargento de milícias de Manuel Antônio de Almeida

O livro intitulado “Memórias de um sargento de milícias” foi escrito por Manuel Antônio de Almeida entre junho de 1852 e julho de 1853 e publicado anonimamente como um  folhetim semanalmente no jornal Correio Mercantil, com autoria de “Um brasileiro” e foi somente na terceira edição que começaria a aparecer o nome do autor. O romance foi escrito na época do movimento do Romantismo, mas sua obra pouco de adapta a esse movimento sendo melhor classificada como um livro de transição romântica ao pré-realismo.
O livro retrata pela primeira vez a figura do malandro e começa o seu primeiro capítulo com a frase “Era no tempo do Rei”  insinuando à época em que a família real veio para o Brasil no reinado de João VI,  além de que nos faz lembrar os contas de fadas sempre iniciados por um “Era uma vez”. No livro como se intitula narra-se em primeira pessoa as memórias de Leonardo um garoto traquino que sempre estava à espreita de uma aventura. Leonardo como diz no livro era filho de “uma pisadela” e um “beliscão” narrando como surgiu o namoro de seu pai Leonardo Pataca e Maria das Hortaliças, essa que mais tarde abandona o marido e o filho para fugir com um capitão de volta à Portugal, deixando assim o pobre do Leonardo nas mãos do “compadre” que era seu padrinho e barbeiro que muito apreço tinha pelo menino. O Leonardo Pataca como de seu costume continua atrás de um “rabo de saia” e de primeira se encanta por uma cigana, esta que pouca atenção lhe dá, fazendo-o buscar pela feitiçaria, prática proibida na época. Em meio ao ritual aparece para a surpresa de todos os major Vidigal, personagem este que seguia à reta a lei, bem como mandava prender e soltar quem queria a seu bel prazer.  O livro se segue contando as malandragens do Leonardo.
A estrutura do livro é bem organizada em curtos capítulos, com variação do número de páginas dependendo da editora. O livro é dividido em duas partes: a primeira com 23 capítulos mais voltados a contar as malandragens e travessuras aprontadas por Leonardo, já a segunda parte é composta por 25 capítulos onde o enfoque é mais na vida madura do Leonardo e seus esforços para tomar Luisinha dos braços de José Manuel. O livro é narrado em primeira pessoa e com uma linguagem bem simples, fácil e compreensível, diferentemente de muitos clássicos da Literatura Brasileira que tem uma linguagem bem rebuscada e de difícil compreensão.
O livro em si é uma cronometragem da sucessão de fatos das aventuras e desventuras do Leonardo. Como no início do livro que se inicia com a frase “Era no tempo do Rei”,  já se vê em questão bem como os fatos passados desde a infância do menino até o seu estado atual de sargento miliciano. Leonardo como citado acima era um garoto traquino que desde muito novo foi adotado pelo padrinho que era um barbeiro que muito o apoiava em tudo o que fazia, mesmo quando uma vizinha metia-se diariamente a provoca-lo dizendo que o menino “era de mal bofes”. O padrinho tinha o sonho que no decorrer do livro, vê-se como algo totalmente ilusório e quase que surreal, de que o garoto se tornasse Padre. Sendo assim certo dia decide  por o garoto na escola que é descrita as aulas ocorridas na própria casa do professor onde havia uma sala com diversos bancos de madeira e mesas com furos para os tinteiros. O professor dava aulas com a palmatória sempre pronta para corrigir quaisquer erros nas decorebas da tabuada. Leonardo não gostou do ambiente. Desde o primeiro dia de aula o garoto já tinha rendido alguns “bolos” que eram as pancadas de palmatória. Na história vê-se também um importante personagem: a comadre, a suposta madrinha do menino, esta uma mulher muito religiosa e fã das ladainhas e festejos da igreja. Vê-se assim muitas vezes narrado no livro os costumes e festejos religiosos praticados na época do século XIX como o “Domingo do Espírito Santo” no capítulo 19, da primeira parte. Ao decorrer da história vê-se outra importante personagem: a D. Maria, mulher esta já de idade que mesmo assim era descrita como uma fanática por “demandas”, que adotou como filha, sua sobrinha Luisinha que ficou órfã do pai que era irmão de D. Maria. Luisinha foi descrita como “era alta, magra, pálida: andava com o queixo enterrado no peito, trazia as pálpebras sempre baixas, e olhava a furto;” de começo numa das visitas do compadre e o Leonardo à casa da velha amiga D. Maria, visitas estas que pouco lhe interessava ao contrário com a chegada de Luisinha passa agora a atrair o Leonardo. Luisinha, esta que de começo dá risos aos lábios do Leonardo, mas que depois vê-se envolvido pela paixão pela garota. Ao narrar a paixão infantil entre o menino e Lusinha, outro personagem entra na história: José Manuel, um antigo conhecido de D. Maria, este sendo já um adulto por lá de seus 35 anos de idade, que gostava de contar façanhas que nunca haviam ocorrido, entra no páreo para disputar o coração da pobre garota. No livro percebe-se que José Manuel queria simplesmente a herança da pobre garota. Percebendo suas segundas intenções a comadre entra mais vezes na história para tirar o oponente do caminho do afilhado. Em meio a estas desventuras o compadre acaba adoecendo e, consequentemente veio a falecer, passando assim o pobre do menino a voltar a morar na casa de seu pai, o Leonardo Pataca. O Leonardo Pataca acabou se casando com Chiquinha, a filha da comadre. Chiquinha acaba engravidando e dando à luz uma menina para a felicidade do Leonardo Pataca. Na cena do parto é descrito as parteiras e as rezas, que eram costumes comuns da época. Começa-se assim uma “rixa” entre Chiquinha e Leonardo, que acaba fugindo de casa e parando em outras aventuras na casa de uma moça chamada de Vidinha, que era filha de uma quarentona que tinha  três filhas e sua irmã, que também tinha três filhos, mas homens. Leonardo agora se vê apaixonado por Vidinha, que era uma linda mulata. Percebem-se assim os traços característicos do menino herdados do pai quanto a ser um “namoradeiro” que acaba se esquecendo de Lusinha! Certo dia numa patuscada Leonardo denunciado por dois dos primos de Vidinha que eram apaixonados por ela, resolvem denuncia-lo ao Major Vidigal, que aparece para prendê-lo! Nesse momento acontece algo inesperado que nunca houvera ocorrido na vida do Major: o Leonardo consegue fugir do Vidigal, que acaba se  tornando motivo de piadas, já que era um homem respeitado por sua rigidez. Para sua vingança o Leonardo é promovido a granadeiro, e assim passa a “trabalhar”, mesmo com suas diabruras. Nesse meio tempo Lusinha acaba se casando com o José Manuel, que torna sua vida uma total infelicidade. Depois de pouco tempo de casado José Manuel para surpresa de todos acaba tendo um ataque apoplético e vindo à óbito. Numa situação dessas foi o plano “perfeito” para que enfim D. Maria e a comadre resolvessem unir os jovens de uma vez por todas, e assim foi: O Leonardo depois de muito aprontar casou-se com Lusinha e foi promovido pelo Major Vidigal como Sargento de milícias, recebendo só assim no final do livro o título lhe concedido no nome do livro o “Sargento de milícias”
Do ponto de vista crítico e pessoal, percebemos aspectos importantes da época como os costumes e o tipo de vida predominante na época, bem como aspectos interessantes como a vizinha fofoqueira do barbeiro que passava a criticar constantemente o Leonardo, sendo o barbeiro alheio as críticas. O livro ao nosso ver chama também a atenção do leitor por ser uma literatura com “toques” de ironia, e chega a causar risos no leitor. Sem contar que a leitura ocorre facilmente pelos curtíssimos capítulos e a fácil linguagem. Manuel Antônio de Almeida usou do bom senso e fugiu do comum romantismo predominante da época e soube tanto explorar o sentimentalismo como o humor na obra.

Quando se pensa em Literatura Brasileira logo se pensa “Oh! Que tortura, dê-me um dicionário!” o contrário ocorre com esta obra: o autor consegue fisgar o leitor da primeira à última página, por que além de ser interessante é de fácil compreensão. O livro é indicado para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio.
Este foi o primeiro e o único livro escrito pelo escritor Manuel Antônio de Almeida, escrito ao 21 anos de idade, que inicialmente foi publicado como folhetim no jornal Correio Mercantil. O escritor teve a vida interrompida por uma morte precoce aos seus 31 anos no dia 28 de Novembro de 1861, mas deixando um grande legado para a Literatura Brasileira com as aventuras do malandro Leonardo.

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